Música Caipira

Nesta página você encontrará artigos e sugestões para enriquecer o seu projeto educativo ou evento. 

Coletânea elaborada pela Professora Débora Malacario


Ficha técnica: O Violeiro
Autor: Almeida Junior                 Movimento: Realismo
Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil
Técnica: óleo sobre tela         Tamenho: 141cm x 172cm
Saiba mais em:
 http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/10/22/976148/conheca-violeiro-almeida-junior.html

A MARGINALIZAÇÃO DA MÚSICA CAIPIRA

Cenas do cotidiano no interior, descrições simplistas da vida de homens e mulheres rudes, que ainda não foram mudados pela expansão das cidades e do capitalismo. O culto a uma vida sem luxos, em que a subsistência vem da força das mãos e do conhecimento do tempo. Era disso que tratavam as modas de viola, que surgiram a partir dos anos 1920. Falava-se sobre como viver da terra. Hoje, o termo caipira foi generalizado, se tornando uma figura representada por esterótipos. O sotaque caipira e seu “falar errado” não é propositado. É um dialeto criado para uma comunicação própria entre comunidades que conhecem as horas apenas por observar a movimentação do sol, que têm um chá para todo tipo de doença e uma simpatia para qualquer mal.

A moda de viola é uma expressão da música caipira. Uma união de influências dos europeus, índios e africanos. Um estilo de música que conta fatos históricos da vida de quem vive no campo. Causos da região rural faziam parte das letras de Cornélio Pires, compositor que começou a gravar em 1929 o que hoje chamamos de música sertaneja.

A viola, símbolo e instrumento desse ritmo tão peculiar, trazia em suas cordas o poder de traduzir as tristezas, alegrias, dores e belezas da cultura caipira. Uma brava representante de uma parte da nossa brasilidade. A companheira do peito dos compositores que sabiam cantar sobre esse universo tão distinto.

As letras quase sempre evocavam o bucolismo e o romantismo das paisagens, da cultura caipira, do homem interiorano, fazendo assim uma oposição ao homem que prosperava na cidade grande. O gênero que ainda trata desses mesmos aspectos hoje é conhecido como música de raiz, bem diferente da proposta utilizada pelos cantores que se intitulam sertanejos, com suas letras sobre dores de amor e tão somente isso. Exemplos de verdadeiros sertanejos, que cantavam uma temática muito ligada à realidade cotidiana são as duplas Mandi e Sorocabinha e Laureano e Soares.

A música de raiz pode ser historicamente dividida em três fases: de 1929 a 1944, como música caipira ou de raiz, na qual os cantores falavam do universo sertanejo de uma forma épica e muitas vezes satírica, mas quase nunca de uma forma amorosa. Destacam-se nesse período: Tonico e Tinoco e Pena Branca e Xavantinho.
Do pós-guerra até aos anos 60 há uma fase de transição, quando novos instrumentos passaram a fazer companhia à viola, como a harpa e o acordeão. Aqui a temática começou a ganhar um tom mais amoroso, mantendo, porém, seu caráter autobiográfico. Tião Carreiro, Cascatinha e Inhanha e as Irmãs Galvão foram representantes dessa fase.

Do final dos anos 60 até hoje ficamos com a música sertaneja romântica, que até há alguns anos atrás era representada por duplas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Hoje, existe um número grande de duplas e cantores a solo que se intitulam caipiras, mas que há muito fugiram da original proposta da moda de viola. Como bem disse o jornalista e estudioso da cultura popular Assis Ângelo, “muita coisa de mau gosto foi produzida, gerando também uma vertente brega ou expressões conhecidas como dor de cotovelo, normalmente associadas ao que veio ser chamada música sertaneja. Surpreendentemente, esta nova vertente fez muito sucesso, às vezes a ponto de ofuscar a música caipira de raiz de conteúdo e sensibilidade admiráveis”.

Não se sabe ao certo o motivo de tantas pessoas torcerem o nariz liminarmente para esse gênero tão particular do país. Muito justificam isso com o fato de que a música caipira perdeu há muito sua principal caracteristica: falar sobre o cotidiano sertanejo/caipira. As letras que mais fazem sucesso entre o público brasileiro atualmente falam sobre brigas de casais, corações partidos e a chamada “dor de corno”, diretamente ligada à traição entre os casais.

Outro ponto interessante é que cada dia surge uma nova “dupla sertaneja”, formada por pessoas que jamais tiveram qualquer tipo de relação com o campo, nunca montaram um cavalo e não sabem sequer qual a cor da terra no solado das botas que usam. Não que esses sejam pré-requisitos primordiais para boas composições, mas a verdade, é que o gênero se tornou apenas um trunfo para fazer sucesso noshow bussines. Uma pena, pois quem perde é a cultura caipira do Brasil.

FONTE: http://obviousmag.org/archives/2011, acessado em 23 de maio de 2013



"Tristeza do Jeca" - a melhor música caipira de todos os tempos


IVAN FINOTTI 
da Folha de S.Paulo
"Uma música especial, com letra bela, mas diferente do que tocam por aí", aprovou o doutor Nestor Seabra. 

Era uma tarde de 1918 e o elogio se dirigia ao autor da singela canção, Angelino de Oliveira, um dentista, mas que também vendia imóveis, liderava o trio Viguipi (violino, guitarra, piano) e, vez por outra, ainda assinava como escrivão de polícia de Botucatu.

Já o Nestor Seabra, presidente do Clube 24 de Maio, um dos mais tradicionais da cidade, era quem havia encomendado a tal da "música especial" ao multifacetado Angelino.

E foi no 24 de Maio, sob o olhar satisfeito do doutor presidente, que Angelino tocou e cantou "Tristeza do Jeca" pela primeira vez. "Teve de bisar a música cinco vezes", conta o jornalista e pesquisador Ayrton Mugnaini Jr., autor da "Enciclopédia das Músicas Sertanejas" (Letras & Letras, 2001).

Noventa anos depois, "Tristeza do Jeca" é a campeã de uma eleição feita, a pedido da Folha, por um grupo de 16 críticos, pesquisadores e compositores. Sem ser científica ou estatística, a enquete aponta alguns dos maiores clássicos da música caipira e ajuda qualquer interessado pelo gênero a montar um CD danado de bão.

Tatu

Inspirada no Jeca Tatu, personagem do livro "Urupês", que Monteiro Lobato havia lançado naquele mesmo longínquo 1918, "Tristeza do Jeca" deixou marcas profundas.

"O tom desencantado da letra deu, por um tempo, ideia de que música caipira tratasse só de morte, de tragédia, o que não é verdade", afirma José Hamilton Ribeiro, autor do livro "Música Caipira - As 270 Maiores Modas de Todos os Tempos" (ed. Globo, 2006).

Já o jornalista Marcelo Tas, fã apaixonado do estilo sertanejo, recorre a lembranças interioranas para justificar seu voto: "Que me desculpem Tonico e Tinoco, mas o melhor intérprete desta canção foi meu 'vô' João. Nas festas da família lá em Ituverava, sempre chegava a hora dele cantar, cheio de orgulho e com uma verdade doída saindo do peito, que 'nasceu num ranchinho à beira-chão todo cheio de buraco onde a lua faz clarão'. Todo mundo deixava o que estava fazendo para ir correndo ver o show. Um verdadeiro 'resumo da ópera' caipira."

Além deles, votaram os historiadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (ambos autores de "A Canção no Tempo", Editora 34, 1997), Fernando Faro (criador do programa "Ensaio"), Rosa Nepomuceno (autora de "Música Caipira -Da Roça ao Rodeio", editora 34, 1999), Aloisio Milani (roteirista do "Viola, Minha Viola"), Assis Ângelo (autor do "Dicionário Gonzagueano, de A a Z"), Carlos Rennó (organizador de "Gilberto Gil - Todas as Letras), Luís Antônio Giron (editor de cultura da revista "Época") e Marcus Preto (colaborador da Ilustrada).

Quatro artistas também participaram: Tinoco (da dupla com Tonico), Zezé di Camargo, Renato Teixeira e a dupla Milionário e José Rico, que votaram em dupla. As listas completas, com a ordem de votação de cada eleitor, e alguns comentários sobre cada canção, podem ser lidas em www.folha.com.br/090651.

Tuia

"Tristeza do Jeca", assim como a maioria das 78 músicas citadas na votação, foi gravada e regravada por todo mundo, no meio sertanejo e fora dele. No filme "2 Filhos de Francisco" (2005) foi a vez de Maria Bethânia e Caetano Veloso.

Porém, a versão mais votada pelos especialistas consultados foi mesmo a de Tonico e Tinoco. "Ela abria e fechava o 'Na Beira da Tuia', nosso programa na rádio Bandeirantes", lembra Tinoco, 88.
"Tuia? Ora, tuia é onde a gente guarda enxada, saco de milho, essas coisas... Mas esse povo da cidade não tem 'curtura' nenhuma 'mermo'..."

FONTE: http://violaenluarada.blogspot.com.br, em 16 de março de 2009.


SUGESTÕES DE LIVROS

Ribeiro, José Hamilton. Música caipira: as 270 modas de todos os tempos. São Paulo: Globo, 2006.

Sinopse
Após uma série de reportagens no Globo Rural sobre o assunto, o jornalista José Hamilton Ribeiro foi convidado pela Editora Globo para aprofundar suas pesquisas e escrever um livro diferente sobre música caipira. Apoiando-se em dois "apaixonados" o médico e catireiro de Bom Despacho, dr. José Maria Campos, e Júnior Borges, seleiro e violeiro de Uberaba, ambos com um acervo em casa de mais de 2.000 discos José Hamilton, após estabelecer critérios (música sertaneja não entra, regional não entra, letra ruim não entra, "resposta" não entra, etc) escolheu as 270"maiores modas de todos os tempos", sendo 150 de um "listão" e 170 de categorias específicas.



                     Nepomuceno, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Ed. 34 Ltda., 1999.

Sinopse
Por vezes contraditória e acidentada, a música caipira é rastreada por meio de entrevistas, histórias, letras, discografias, fotos e mapas, nesta bela e preciosa obra da jornalista Rosa Nepomuceno. O livro percorre o longo caminho da música rural do país, desde Cornélio Pires, nos anos 1920, até os caipiras-pop, que estão trilhando um percurso de volta à cultura rural tradicional. Para enriquecer "Música Caipira: da roça ao rodeio", a autora entrevistou desde a pantaneira Helena Meirelles ao lendário Bob Nelson, o primeiro cowboy sertanejo, ainda na outrora inesquecível e ingênua era do rádio. Pena Branca e Xavantinho, Chitãozinho e Xororó e Renato Teixeira também participam deste livro que mapeia as veredas do nosso grande sertão sonoro.



PROGRAMAS DE TV


Inezita Barroso, cantora e folclorista      

Viola Minha Viola
Inédito: domingo, 9h 
Horário alternativo: sábado, 20h

Programa de televisão, gravado no Teatro Franco Zampari, produzido e exibido semanalmente pela TV Cultura de São Paulo e pela TV Brasil.
Um dos mais tradicionais programas de música caipira na televisão brasileira, o Viola, Minha Viola é apresentado semanalmente desde 25 de maio de 1980. Inicialmente, era apresentado por Moraes Sarmento e Nonô Basílio. Em seguida, em parceria de Sarmento com Inezita Barroso. E, nestes últimos anos, após a morte dele, apenas por Inezita.


Rolando Boldrin, cantor, compositor e diretor 

Terças-feiras, às 21h
Reapresentação aos domingos, às 10h

A base do programa Sr. Brasil são os ritmos e temas regionais brasileiros. E vale tudo já escrito em prosa, verso e música - e até história a ser contada. O programa é vasto, aberto, receptivo. Ele só não se permite o que não seja genuinamente nacional.

E aí entram discussões infindáveis. Porque além do charme da metrópole, muita coisa existe para confundir a identidade brasileira, incluindo-se os interesses comerciais. Por exemplo, musica sertaneja e musica caipira.
Coisa danada pra confundir. Entenda-se por musica sertaneja de alto consumo aquela que, originária da caipira, foi se vendendo aos poucos, perdendo suas características em função do apelo comercial. Envergonhada da sua condição de matuta, botou roupa de cowboy, postura madrilena e ritmo de guarânia.
Simples, aberto, despojado, sem rigidez de estrutura, Sr. Brasil tem uma proposta absoluta e propositadamente fechada a exemplo dos programas anteriores de Rolando Boldrin "Som Brasil", "Empório Brasil" e outros. Aqui só entram as manifestações da cultura regional brasileira.
A idéia do projeto é não ter qualquer preconceito contra intérprete ou ritmo. Os nossos materiais são os ritmos e os temas brasileiros. Se tivermos que colocar algo, vamos colocar o nosso. Pode ser até um projeto pretensioso, audacioso. Mas é a idéia. O programa não é rígido em termos de intérprete. Onde ele se fecha e na seleção musical, repertório, na sua concepção. Na prática, o seu leque é amplo, bastante abrangente. Não é só música caipira. São as manifestações regionais. Nele cabem, o Renato Teixeira, o Milton Nascimento, o Dominguinhos, o Chico Buarque, a Diana Pequeno, uma lista enorme de pessoas que fazem um trabalho ligado á cultura popular brasileira.
Nem só isso. Entram causos, trechos de autores brasileiros- inclusive os clássicos -, dança, peças de teatro, documentários (de importância ecológica), curtas etc. Mais uma lista infindável, levando-se em conta a riqueza cultural e natural do Brasil, um país que por sua extensão e variedade, seria mais corretamente reconhecido como continente.
Mas a idéia central é de um musical. Embora tenha, em determinados momentos esses vários temas. É um velho no interior de Minas que crava viola à mão. Mas ele também canta. Quer dizer, uma informação que se insere na proposta do programa.
 "Não há país no mundo igual ao Brasil. Somos a mistura mais maravilhosa da Terra." 
FONTE: http://tvcultura.cmais.com.br/srbrasil/programa-sr-brasil, 25 de junho de 2011.