Cultura Caipira e Educação

Por: Profª Débora Malacario



No inverno, em todo Brasil, são realizadas as festas juninas. É o momento de se reviver e recriar as tradições populares e de aproveitar toda a matéria-prima que a ocasião oferece para tratar de assuntos relacionados à cultura e à valorização do homem do campo.
É um ótimo momento para reaquecer a cultura e a tradição entre pessoas da comunidade, alunos, pais e professores.


A escola é um importante meio de difusão cultural porque as crianças assimilam e propagam com facilidade todas as coisas que lhes despertam curiosidade e alegria. Não se trata apenas de repetir gestos e reproduzir comportamentos típicos, mas conhecer sua origem e significado, recriando-os a partir dos interesses, da cultura local e do momento histórico.


Organizar uma quadrilha, por exemplo, é muito mais interessante quando se sabe a razão da existência dessa atividade na festa, quando se conhece o significado dos gestos e se pode adaptá-los à realidade em que se vive. Se um determinado movimento da dança representa o cumprimento entre os pares, as crianças não podem recriá-lo?



O folclore é dinâmico, não existe em função de sua reprodução pura e simples. A grande riqueza está na incorporação de hábitos e costumes regionais que continuam a fazer parte do dia-a-dia dos grupos humanos e de novos valores desenvolvidos. Não há padrões para a festa e as danças juninas. Elas refletem o modo de viver do homem do campo, e por isso assimilam as características desse povo em cada região do país. Festa junina no Nordeste é muito diferente da festa junina no Sul do Brasil, ou em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo. Quanta riqueza cultural pode ser descoberta pelas crianças ao compararem os trajes, a comida típica, as características comportamentais do povo em cada parte do país?

SITUAÇÕES INTERDISCIPLINARES

As festas juninas não podem passar pela escola apenas como mais um evento. É preciso saber explorar todos os recursos que esse momento oferece. Por ser a celebração do modo de vida do caipira, há muito o que investigar e descobrir sobre o meio rural, nos tempos passados e nos dias de hoje. É preciso que as crianças aprendam a respeitar as pessoas do meio rural e a reconhecer a interdependência cidade-campo. O que seria da cidade, se não fosse o campo? Nossos alimentos, mesmo aqueles que passam por processos industriais, tem origem no campo: a carne, o leite, as frutas, os legumes, os cereais. Assim também são as roupas que vestimos, apesar do surgimento das fibras sintéticas, ainda utilizamos muito o algodão e a lã.

O tema sugere muitas explorações e inspira trabalhos em todas as disciplinas:

-Leitura e produção de textos: versos, lendas, personagens históricos;
- A hora do "causo"; participação de pessoas da comunidade para contar como eram as coisas no campo em outros tempos; causos de autores famosos brasileiros;
- Visitas a museus para conhecer implementos e utensílios antigos do campo e passeios a sítios e fazendas;
- Os animais do campo;
- O tipo de cultura agrícola de cada região do país ou estado; relações entre lavoura e clima;
- Pesquisas e discussões sobre a história do homem do campo;
- Reflexões sobre a política agrícola no país (o que nós, da cidade, pensamos quando nos deparamos com a imagem, na TV, de produtores rurais queimando ou jogando toneladas de produtos agrícolas no rio, porque o preço mínimo não cobre nem as despesas com o transporte? O que acontece quando um produtor rural perde a safra por problemas climáticos? E a questão dos "sem-terra", é uma causa justa? E os produtos transgênicos, porque existem e quais as consequências do seu consumo? Há meios para o produtor rural nordestino superar os problemas com a seca? etc.);
- As receitas dos pratos típicos e a medida de seus ingredientes;
- O uso das ervas e suas consequências, o "chazinho da vovó";
- A confecção de utensilhos de barro, palha, bambú e outras matérias primas naturais;
- A música caipira;
- Folclore: a organização da quadrilha, o casamento caipira, folguedos,desafios;
- A arte da decoração da festa.

Enfim, a festa é a culminância de um grande projeto na escola.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo. São Paulo. Brasiliense, 1986.
BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio. Dicionário de Língua Portuguesa, 1997.
BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio, 1989.
ENCICLOPÉDIA BRASIL, Histórias, Costumes e Lendas. Editora Três. s/d.
FREIRE, Paulo e outros. Fazer escola conhecendo a vida. Campinas, Papirus, 1986.
LUFT, Pedro Celso. Minidicionário. Ática. 1998.
MADURO, Otto. Mapas para a festa. Petrópolis. Vozes, 1994.
MAY, Rollo. A coragem de criar. Rio de janeiro. Nova Fronteira, 1978.
PEREIRA, William C. castilho. Dinâmica de grupos populares. Petrópolis, Vozes, 1985.
REVISTA FAMÍLIA CRISTÃ. Edições Paulinas,junho de 1983, p 62-63.
REVISTA NOVA ESCOLA, Fundação Victor Civita, junho de 1997, p. 36-41.
VARIOS AUTORES. Cadernos de Educação Popular. Petrópolis, Vozes/Nova, 1982 a 1995.


ENTREVISTA COM MEUS PAIS:

Dorival Malacario, produtor rural e cooperativista, paranaense, neto de imigrantes italianos.
Natália Felber Malacario, professora aposentada, paranaense, filha de imigrantes suíços.



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